Cada vez que vejo uma rejeição que reforça o quanto a sociedade é injusta e valoriza o que não é tão importante entro na reflexão de qual seria o meu papel neste mundo. Posso escrever de muitas coisas, mas quero trazer pequenas pérolas que mostram como o mundo está errado.
A primeira vez que me dei conta de que tenho problemas de autoestima foi quando percebi que precisava ter um espelho sempre a mão, principalmente para escovar os dentes pela manhã, mas que, mesmo que eu me arrumasse, não via nada do que estava fazendo, apenas no automático. O espelho era usado para ter certeza que não fiquei com algo preso no dente, ou que tirei toda a espuma de pasta da boca. Conferir se havia limpado os olhos direito, ou se meu cabelo estava muito arrepiado e deveria prender diferente, ou passar um creme. Mas não reparava se tinha alguma marca na pele, espinha, as olheiras profundas muito marcadas, até mesmo o olho inchado. Se alguém me perguntasse sobre algo, era quase como uma confissão de não usar o espelho, eu não sei como está o meu rosto.
Anos fazendo isso, não entendia a disputa por um espaço no espelho do banheiro feminino e a necessidade de ir tantas vezes ao banheiro. É claro que frequentei muitos lugares em que os banheiros não têm espelho, ou o que tem não ajuda muito. Mas a verdade é que pra mim nunca foi um hábito me aproveitar deste recurso, ou procurar por um.
Um determinado dia, numa conversa de amigas, percebi o que fazia, que para mim era normal se comportar desta forma, mas que a maioria das mulheres não faz isso. E entendi que eu sempre seria da classe das feias.
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