terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Diário de uma feia 2

 Tenho muita história para contar. A maioria é pessoal demais para ser escrita. Mas acredito que sou apenas mais uma num grupo enorme de pessoas que se sente deixada de lado por um motivo besta.

Antigamente as mães diziam que algumas meninas nascem para casar, e outras para trabalhar fora. Felizmente a opção de trabalhar não está mais relacionada a ter ou não um marido para a sustentar. Espero que minhas filhas não tenham que ouvir isso de alguém.

Mas a verdade que muitas meninas, desde pequenas, 4-5 anos, ou até mesmo desde o nascimento, tiveram que conviver com essa constante cobrança de aprender a se virar, a servir os outros, porque não pode contar com a possibilidade de se casar. Enquanto que outras, são preparadas desde pequenas para brilhar, para atrair a atenção, conseguir uma boa posição (e geralmente um bom casamento). Filmes e livros que começam com esta premissa são muitos.

E eu fui mais uma que teve que passar toda a infância e adolescência ouvindo, e sendo convencida, de que não servia para arrumar um marido e precisava estar preparada para me virar sozinha. Isso não deveria ser um problema. As meninas de hoje são preparadas para se virarem sozinhas. Mas todo um mundo de autoconhecimento e autocuidado me foi proibido. Parece uma bobagem, mas não poder escolher uma roupa que te valoriza, ou uma forma que faz seu cabelo ficar mais bonito, ou até poder escolher se quer usar maquiagem ou não, são importantes para se autoconhecer. E eu sempre ouvi que isso não é pra mim, afinal, eu já era inteligente, não precisa perder tempo com essas coisas, que não tinha solução. Que tal? Não tinha dinheiro meu para escolher com o quê gastar, usava as roupas que sobravam de irmãs e primas mais velhas. Quando tinha a oportunidade de escolher uma roupa nova para comprar era difícil, nada ficava bem, a moda não me servia, e eu não tinha poder de decisão. Também não podia escolher corte de cabelo e nem os produtos a usar. Mesmo que tenha cabelos cacheados e minhas irmãs cabelos lisos, usávamos os mesmos produtos.

Uma coisa é não se importar com a aparência, outra bem diferente é não ter autonomia sobre quem você é. Ser feia pode ser ser colocada numa situação em que não permitem que você possa se conhecer. Afinal, vai que você descobre que na verdade é bonita?

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