Quem É Rico?

Depois de muito ler sobre economia doméstica e investimentos, me voltei a pensar em quem é rico.

Na minha vida prévia de classe média eu imaginava que era realmente a situação intermediária, no meio. Quer dizer que a família não passa fome mas precisa sempre fazer contas e escolher em quê gastar. Faz muitas compras parceladas e eventualmente tem grandes dívidas, mas não chega a faltar nada. Pelo menos sabe o que é um supérfluo e o que pode escolher ficar sem.

Por esta fraca definição, se alguém consegui guardar dinheiro ou fazer uma compra impulsiva em algum momento da vida, já é rico.

Mas conforme eu fui crescendo descobri que alguns jovens não precisam escolher profissão porque não precisam trabalhar. Descobri que tem famílias que ninguém trabalha efetivamente, apenas com participações conseguem uma remuneração muito mais do que suficiente.

Sendo assim, eu nunca vou poder me considerar rica porque sempre vou depender de algum tipo de remuneração ou contrapartida em algum trabalho que eu realizo. Mas isso faz algum sentido?

A situação mais chocante foi uma vez que uma funcionária que fazia faxina no apartamento que eu morava: um apartamento antigo, com menos de 100 m2, sem sacada com churrasqueira nem nada, com a maioria dos móveis herdados das casas dos parentes, sem peças de cristal, sem ar condicionado, apenas uma televisão na casa, poucos eletrodomésticos, nada de inox; falou que era um apartamento de luxo, insinuou que eu era rica. Um pouco acima da média até vá lá, mas para ser rica falta muito! Entendam que eu nunca me considerei pobre e, segundo o meu conceito inicial, o simples fato de conseguir viver com algum conforto sem gastar toda a renda mensal já é ser um pouco rico. Mas não percam tempo com inveja de mim. Existe um esforço para aprender a viver com menos do que eu ganho e existe um esforço para eu batalhar e alcançar uma renda superior às minhas despesas. Assim como quase todas as pessoas, eu tenho um plano de vida, e o minimalismo está me ajudando a alcançar. 

Então antes de gritar e se revoltar com a minha "riqueza", veja o que pode ser feito para adaptar à sua realidade. E se for para ter raiva de alguém, perca tempo tendo raiva de quem é rico só por existir, que não faz esforço.

Agora tem mais um ponto: a caridade. Tem rico que desperdiça ou esbanja e chama de caridade. Tem gente que doa muita coisa, mas compra sem pensar. Sendo que boa parte da população compromete até mais do que os 10% da renda ajudando os outros, sejam eles conhecidos ou desconhecidos. 

Nestes tempos de crise, agradeci muitas vezes que a redução da renda permitiu que eu abrisse mão de uma série de coisas, sem passar necessidade. Mesmo as dívidas, estão sob controle. A poupança para o futuro diminuiu, mas não a ponto de ficar comprometida. Nossa sorte foi ter percebido o que vinha e parar a tempo. 

Sob este ponto de vista, sim, eu sou rica. Depois conto tudo o que nos foi possível cortar.