Não interpretem mal. Não, eu não estou me mudando. É só uma reflexão sobre as mudanças de vida.
Quando eu comecei a publicar sobre a minha vida, eu só queria ter alguns registros das minhas leituras. Foi um momento da minha vida que eu queria ler tudo que eu visse pela frente. E apesar de eu continuar amando ler, mudei muito a maneira com que eu faço as minhas leituras. Neste momento, a escolha das minhas leituras é no sentido de desobstruir as minhas obrigações, sejam as listas de leitura, sejam os livros que eu não pretendo reler um dia e estão parados na minha estante. E estou longe de me livrar desta preocupação.
No segundo momento, eu comecei a tentar acumular as experiências que eu julgava apropriadas. E quase tudo que eu publiquei estava relacionado a metas e coisas que eu queria fazer e cumprir e marcar como minha. Este foi um período intermediário e necessário para a etapa seguinte. Foi um período de ponderação se era o momento certo para partir para outro objetivo. E eu sentia a necessidade de dar por encerrado o período anterior. Eu percebi que essa mudança estava acontecendo quando eu comecei as minhas metas de leituras mas também coloquei outras metas. Também entrei em outros desafios que foram neste sentido.
E o terceiro momento, de tentar simplificar a minha vida, é um pouco mais perto do que eu poderia dizer como o momento atual. Ainda carrego muita coisa que não consegui me libertar da fase das leituras e da fase das metas. Posso dizer que entrei no minimalismo, tentei tirar coisas da minha vida, mudei alguns hábitos e agora estou trabalhando para ter mais tempo livre. Por isso, prefiro dizer que estou tentando simplificar a minha vida. Mas eu vou falar melhor da combinação num outro momento.
Para agora, o que eu fiquei curiosa foi como esta mudança acontece na vida das pessoas. Na maioria vi esta mudança ser despertada pela maternidade/paternidade. Na busca de ter mais tempo com a família e se ver menos sufocado nas atividades de rotina e continuar tendo tempo para si. Vi muitos adotarem estilos de vida para recorrer a outras formas de renda sem depender de um emprego formal, aqui aparecem os digital influensers, coaches, personal alguma coisa, artesão, consultor, free lance... Nada contra estas carreiras, acho que há espaço para tudo, principalmente para quem tem o dom para isso. Mas me espanta a forma como estes tipos de ocupação profissional só apareceu na vida destas pessoas como forma a recorrer num momento em que era necessário ter mais tempo. Algumas vezes nem é por trabalhar menos horas, mas por poder fazer o seu horário de forma mais flexível. Outras vezes é para poder se fazer mais presente em casa sem tantas viagens.
Não vou mentir que eu não gostaria de ter uma ocupação que me proporcionasse mais tempo em casa e mais tempo fazendo as minhas coisas. E fazer destas preocupações a minha ocupação, melhor ainda. Mas ainda não consigo encarar isso como meio de vida. Tenho a impressão que esta onda vai passar. E eu teria que voltar a batalhar por outro meio de vida depois de uns poucos anos. Apesar de muitos serem contra a reforma da previdência e da CLT, abrir esta possibilidade de outras formas de contrato de trabalho, mais flexíveis, mesmo que seja necessário se aposentar mais tarde, de preferência com possibilidade de reversão seria muito mais proveitoso do que a perda de tantos profissionais qualificados para outras funções menos especializadas apenas por conta da flexibilidade de tempo. E isso é o que mais pesa na minha decisão. Eu tenho uma qualificação bem especializada, e faltam profissionais qualificados. Se eu sair desta função para outra, vão colocar uma pessoa menos capaz e a qualidade do serviço prestado vai diminuir. Será que isso é justo?
Eu acho que mudar é importante, apesar de a maioria das pessoas ter tanta resistência à mudança. A mudança gradual acaba tendo um impacto menor. Mas no meu caso, prefiro estar aberta à possibilidade de mudança e reavaliar a situação de tempos em tempos para encontrar a melhor oportunidade. Talvez um dia eu mude meu meio de vida, mas até agora, sempre percebo que a situação está mais favorável para o meu plano de vida original. E então eu volto a me concentrar nele ao invés de tentar mudar. Quem sabe um dia eu largo tudo...